"Desabafo" de uma professora.
“... Maior do que a violência do desemprego
é a do
emprego cujo salário degrada a profissão...”
O valor do salário de um profissional corresponde à
importância atribuída ao produto de seu trabalho, princípio que apoia as
decisões de índice salarial do funcionário público. Este texto se restringirá
ao paralelo de natureza político-social entre o recente aumento da polícia
militar e do magistério estadual. O povo clama por segurança. Verdade de um
lado, do outro artifício para justificar a diferença já maior pró militares.
Nesta lógica de diferenciação, tal discrepância desaparece visto que o combate
à marginalidade, distante de sua gênese e dos meios de prevenção, acarreta seu
aumento em proporção superior à polêmica diferença.
Sem o imediato de conter a violência com
estratégias que a reprimem e punem, a educação perde espaço no trato da
problemática de segurança. A universalização e a democratização do ensino
caminham para o desenvolvimento e a segurança através de medidas preventivas da
exclusão, fonte primária da violência. A Constituição imprime caráter inclusivo
à educação pela finalidade que lhe prescreve: “o pleno desenvolvimento da
pessoa para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”. Como
preparar um cidadão, com um mestre anti-cidadão? Pela Carta Magna o trabalhador
tem direito ao salário “compatível com a complexidade e a responsabilidade das
tarefas e a escolaridade exigida para seu desempenho”. Na realidade ele sequer
reflete a grandeza do magistério. Sem condições de atender às necessidades
vitais básicas, o professor perde a garantia de vida cidadã. Benefícios
concedidos aos militares, como escola própria de gratuidade garantida para o
necessário à escolarização de seus filhos transporte, trajes e material de
serviço, não se estendem ao professor. Maior do que a violência de desemprego é
a do emprego cujo salário degrada a profissão e mascara o direito de quem a
exerce.
O magistério é profissão aviltada pelo salário. Sua
remuneração cobre apenas a jornada de 4h30min, do professor na escola.
Resta-lhe apenas exercer o papel de tarefeiro, na triste condição de “babá
barata de criança pobre”, nos estreitos limites do horário presencial em
classe. Oficializa-se o improviso nas aulas. Comprometendo a democratização da
escola pública, expropriada, assim, de sua função social e política. É
para esta escola celetista e discriminatória de baixa qualidade que o “cidadão”
paga impostos? O professor faz de conta que ensina o aluno que aprende o Estado
que cumpre seu dever constitucional. Como exigir do trabalhador em educação
melhor desempenho, sem espaços pedagógicos? Para o antes e o depois quando
realiza atividades em igual tempo fora da escola? A política salarial lhe furta
o direito de pensar criticamente sua prática até porque pensar, além de tudo
aponta para várias alternativas. Isto incomoda. Programar, atualizar,
aperfeiçoar custa tempo e dinheiro. Fatos “verídicos” nos passam esta lição.
Num, professora e empregada negociam aumento salarial. A mestra considera justo
o solicitado, porém seu caixa e salário não comportam mais despesas. Conceder
significaria por ela, professora, estaria pagando para trabalhar. A doméstica
se contrapõe: “por menos, não fico. Eu valoro meu serviço à senhora é que não
valora o seu”. Noutro, professora e cozinheira acertam o serviço salário:
preparo das refeições, limpeza dos ambientes e vasilhames. E o salário?
Depende, diz empregada. As tarefas estão claras, por que o “depende”?
“Simples”, responde a cozinheira, “se a senhora programar “o que” e “o como”
vou preparar as refeições é um preço. Agora, se eu tiver de pensar “no que” e
“no como” farei a comida, o preço é outro”. Pensar dá trabalho, toma tempo e
custa dinheiro.
Mestre pensante, de há muito, descartado. O governo
afirma que os professores recebem os melhores salários. Para quem e para
que? Para os mestres, com aumentos que não lhe preservam o poder
aquisitivo? Para a sociedade, com uma educação desqualificada, fruto da
desvalorização do professor e do seu papel? Melhores, sim para os carenciados
de consciência cidadã. Aplaudem o salario atual, com força de recurso
sub-reptício e institucional no aumento das fileiras do exército de analfabetos
políticos. E sobre a miséria e a ignorância dessa massa alienada, faturam seus
votos rumo ao poder. Este círculo vicioso alimenta a marginalidade. A
decorrente violência apresenta índices alarmantes, divulgados e explorados nos
dados e na prática num clima neurótico de terrorismo. No contexto dos meios de
atendimento aos direitos individuais, com intuito de prevenir a violência, qual
a posição e a importância agregadas à educação? Transpondo a barreira
imposta pela lógica da matemática financeira do Estado – que responde pela
diferenciação dos aumentos salariais, segundo gestores da rés-pública, surge o
que lhe é subjacente – o despojamento da educação do princípio constitucional
de “direito subjetivo”. Até porque, se assim o fosse, por coerência, não se
condicionaria a mínimos orçamentos, nem ao caixa do Estado.
Sob as cifras dos “reais” se esconde a concepção
filosófica e moral do homem e do mundo, que dimensionam o verdadeiro
significado social e político do salário. O produto da educação, qual seja o
preparo dos educadores para a cidadania, como construtores e usufrutuários de
uma sociedade mais humana justa e feliz é mera figura de retórica. A ênfase se
desloca do eixo formativo pelo desenvolvimento das potencialidades
humanizadoras do individuo, para o campo corretivo e punitivo. É preciso
cuidado e clareza com os ganhos presentes, dos quais decorrem perdas futuras. A
prudência indica, especialmente neste caso, para a sabedoria popular – é melhor
prevenir do que remediar.
Nirce S. M. Jabra Jamil
Professora e administradora em Educação
(Estado das Minas Gerais)
Aluna e
colaboradora da Professora Helena Antipof
Infelizmente seja qual for o Estado a situação
do professorado brasileiro é a mesma. Espero que tenham gostado
do texto da professora Nirce que está mais para um desabafo..
Edvaldo Lima
Coordenador de Relações Municipais
(81) 8756 15 26 / 9885 3125
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